O assunto escolinha não era novidade
na família de Marcelo, sua mãe Marina, seu pai Eduardo, os avós e até os tios e
tias sempre conversavam sobre isso, sobre como seria importante pra ele, das
coisas legais que ele ia fazer, as novas amizades, o tanto que ia aprender.
Marcelo mal podia esperar!
Ele dizia: “Mamãe to doidinho pra ir
pra escola!”. O tempo passou e finalmente chegou a hora de escolher. Precisavam
pensar em tudo: a que oferece um bom ensino, que tivesse boas referências, bom
preço e que não fosse muito longe de casa. Tiveram sorte e conseguiram uma como
imaginavam, a família estava feliz, mas a expectativa de todos só aumentava.
“Como ele vai reagir? Será que vai ficar bem sozinho? Será que vai chorar,
sentir minha falta?”, pensava a mãe.
De repente, a tranquilidade de
Marcelo foi mudando, e ao ser perguntado sobre a escolinha, ele começou a
reagir com insegurança:
- Mas mamãe, e se eu não gostar dos
coleguinhas? E se eles não gostarem de mim?
- Imagina Marcelo, você é uma criança
querida, faz amizade fácil, vai dar tudo certo, e se alguma coisa acontecer me
conte, você vai poder contar comigo sempre! Respondia a mãe.
- Mas sabe mamãe acho que gosto mais
da minha casinha. Aqui é legal, tem tudo que eu gosto, meus brinquedinhos, meus
desenhos na TV e você!
- Eu entendo filho, eu também gosto
de ter você aqui, mas lá também tem muitas coisas legais, coisas que você só
vai descobrir o quanto são legais se for!
- Tá bom mamãe, eu vou tentar! - a
voz ainda insegura.
Mas a criatividade do garoto foi
crescendo.
- Mamãe, estava pensando: e se lá na
escolinha tiver muitos Marcelos, e quando você for me buscar levar o Marcelo
errado pra casa? Eu vou ficar triste!
- Hahaha, imagina meu filho, a mamãe
nunca te trocaria por outro, você é meu filho lindo e amado e jamais te
confundiria, fica tranquilo!
Só que a insegurança de Marcelo
começou a contaminar Marina.
- Sabe filho, vou sentir muita falta
de você aqui!
Pronto, era o que faltava para que o
menino desse seu golpe final.
- Mas mamãe, não sei se consigo ficar
sem você, não quero ir pra escolinha!
Marina conversou com o marido e
percebeu que sua segurança era fundamental para a tranquilidade do filho. Eles
passaram a dizer apenas frases de incentivo, procuraram falar menos sobre a
escolinha, entenderam que falar muito sobre isso só o deixava mais ansioso.
E a tática funcionou, tanto que, no
grande dia, no primeiro dia de aula, Marcelo acordou animado, dizendo
novamente:
- Mamãe to doidinho pra ir pra
escola!
- Eba Marcelo, que bom, e hoje você
vai, chegou a hora!
Marina tinha acordado mais cedo pra
preparar tudo com calma, deu o almoço, o banho e lhe colocou o uniforme.
Tiraram fotos dele com a mochilinha nas costas e lá se foram...
As dúvidas voltaram a sua cabeça
durante o pequeno trajeto. No fundo, havia a necessidade de se sentir
importante para o filho “Mas e se ele não chorar? Será que ele não se importa
de ficar longe de mim?”.
Chegando à escolinha, Marcelo subiu a
pequena escada confiante, deu de cara com a diretora recebendo os novos alunos
na porta e já foi logo dizendo com um sorriso no rosto:
- Cheguei pro meu primeiro dia de
aula, minha mamãe veio me trazer!
Entrou sem se despedir, a mãe
carregando sua mochila veio atrás, encontraram a professora e ele já ia
entrando na sala quando a professora disse:
- Dá tchau pra mamãe!
Ele voltou, tascou-lhe um abraço e um
beijo, encostou sua bochecha para que ela o beija-se também e seguiu pra
salinha.
A mãe foi embora pensativa e confusa.
Por um lado estava feliz por ele ter ficado tranquilo, sem choro, sem manha.
Por outro, um pouco decepcionada “Como assim não se preocupou nem em se
despedir? Nem uma palavra pra dizer que sentiria minha falta?”.
No horário combinado o buscou, a
professora disse que ele havia ficado muito bem, que não chorou, nem perguntou
por ela, comeu todo lanche e estava ótimo, ela o abraçou e foram caminhando pra
casa. Então ele disse:
- Sabe mamãe, eu adorei a escolinha,
mas eu senti sua falta!
- Também senti sua falta, mas que bom
que você gostou da escola, amanhã tem mais!
Marina percebeu que ela sempre seria
sua mãe querida, mas que era hora dele andar sozinho, que o fato dele começar a
ter independência não a anulava como mãe. Ela e Eduardo, que adorou ouvir toda
a história do primeiro dia de aula quando chegou do trabalho, sabiam que
estaria presentes na criação e educação do seu amado filho pra sempre!
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